Bebê Reborn: Encanto ou Risco? Os Impactos Psicológicos de Tratar Bonecos Como Filhos

Bebê Riborn foto:Cristiane M. porPixabay

Os bebês reborn — bonecos hiper-realistas criados para se parecerem com recém-nascidos — vêm ganhando cada vez mais espaço no coração de muitas pessoas. Com detalhes impressionantes, como textura de pele, veias aparentes e até peso semelhante ao de um bebê real, eles se tornaram populares tanto entre colecionadores quanto entre pessoas que os tratam como filhos. No entanto, o que para alguns é um hobby, para outros tem se transformado em uma válvula de escape emocional preocupante, gerando impactos psicológicos que merecem atenção.

Por que alguém trataria um boneco como se fosse um bebê real? Essa pergunta vem ganhando destaque à medida que cresce o número de adultos que alimentam, trocam fraldas, colocam para dormir e até registram documentos em nome de seus bebês reborn. Para muitos, esses bonecos servem como uma espécie de terapia, seja para lidar com o luto pela perda de um filho, enfrentar a solidão ou aliviar transtornos como ansiedade e depressão. O problema começa quando a linha entre realidade e fantasia se apaga, e o boneco passa a ocupar um papel substitutivo duradouro no lugar de conexões humanas reais.

Especialistas em saúde mental alertam que, embora o uso terapêutico do bebê reborn possa ser válido em contextos supervisionados por psicólogos, o apego excessivo e contínuo ao boneco pode indicar um quadro mais grave. Transtornos como o Transtorno de Apego ou até mesmo episódios de Psicose Dissociativa podem ser alimentados por esse tipo de interação. É importante observar se a pessoa está substituindo laços sociais e afetivos reais por uma relação ilusória com o boneco — isso pode representar um isolamento progressivo e um afastamento da realidade.

Além disso, há impactos emocionais no círculo social da pessoa envolvida. Familiares e amigos muitas vezes se veem sem saber como agir diante de alguém que trata um objeto inanimado como se fosse um filho de verdade. Isso pode gerar conflitos, afastamentos e até sentimentos de culpa ou rejeição. É fundamental que esse comportamento seja acompanhado com empatia, mas também com responsabilidade. A intervenção de um profissional de saúde mental pode ajudar a compreender a origem desse apego e oferecer alternativas saudáveis de enfrentamento emocional.

O que está acontecendo com as pessoas? A resposta está, em grande parte, no aumento da solidão, do luto não elaborado e da dificuldade em lidar com a dor emocional. Em tempos em que relações humanas são marcadas por insegurança, abandono e frustrações, criar um “bebê perfeito” e eternamente dependente pode parecer uma forma de ter controle e conforto emocional. No entanto, é preciso compreender que isso pode se tornar uma fuga que impede o amadurecimento e a vivência saudável das emoções.

Por isso, se você ou alguém que você conhece desenvolveu um apego forte demais a um bebê reborn, o primeiro passo é reconhecer esse sentimento sem julgamento. Em seguida, buscar ajuda psicológica pode evitar que essa relação simbólica se transforme em um transtorno real. É possível ressignificar a dor sem fugir da realidade. A beleza do cuidado pode continuar existindo, mas de forma consciente, equilibrada e acompanhada por vínculos humanos verdadeiros.


Rinaldo da Nóbrega

Almas-O

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